Holograma

Como sabes iniciei hoje o último passo, este passo que me vai demorar meses a dar.

Tens conhecimento do que ele me pesa, do que significa para mim.

Os anos que esperei, sabes que foi uma espera proactiva!

Os passos que dei nos últimos anos foram maioritariamente para chegar a este.

Dei passos errados, cai, perdi-me.

Dos outros não sabes. Foram ainda mais errôneos, mais ébrios, confusos. Deixaram-me chagas para lembrar que... Não têm a importância que teimo, sim teimo porque já se trata de teimosia, já não é perseverança, já não é sonho, nem mesmo necessidade, é pura teimosia, birra de criança... que este meu passo, o de agora e os outros antecessores tem e tiveram!

Sabes do meu lento sentir-me em casa... dos meus pézinhos de lã, das minhas mãos a tremer, das minhas noites de insónia... e mesmo assim, hoje quando te vi sorriste-me.

Sorri, dei um passo em tua direcção. Realizei um tropêgo ângulo de 90º e enfiei-me apressadamente no elevador, ainda a sorrir.

Gostava de te ter abraçado, que tivesses vindo comigo. Dirigia-me para o teu local de trabalho, ia falar com o teu chefe!

Podias ter procedido às apresentações... mas não!

Não poderei dizer-te bom dia, não te poderei sorrir, não poderei ligar e dizer: tenho 2 minutos, vamos tomar café?!

Não te poderei contar como estou a baixar o pé nesse momento, se acho que poisará em terreno almofadado ou se terei uma luxação do malélo esquerdo...

Enquanto der este passo, passarei por ti e não te reconhecerei...

Assim mo pediste, assim o farei... mas sabes? Dizes-me que não entendo porque sou nova, que as pessoas são más, crueis, que esperam sempre um passo em falso... tens razão, por isso é que era bom poder olhar para ti e sorrir-te, ajudava sabes?!

As pessoas são crueis faças o que fizeres... por isso devemos esquecermo-nos delas nos olhos que amamos! Hoje teria-te abraçado...

Estou à tua espera enquanto escrevo isto, espero que dispas uma farda para te poder abraçar! Mas quando despes a farda que te impões?!

Conheço os teus acordares cheios de energia que irritam os meus pastelosos, conheço a tua loucura que me faz gritar de desespero ou gargalhar divertida!

Dás-me vitaminas diárias para não me doer o dedo grande do pé quando inadvertidamente o empurro contra a esquina da parede.

Pegas-me na cabeça contra os azulejos e tentas à força que entenda que a vida é tão dura quanto os frios azulejos brancos...

Obrigas-me a olhar para os meus fracassos durante horas a fio de forma a poder reverte-los em sucessos.

Vestes-me com um carinho cansado, alimentas-me diáriamente... pedes-me beijos quando não tens a farda e a alma te doi por suportares o mundo, por não o viveres mas sim carrega-lo!

Eu dou-te beijos e recebo de ti o que tens para me dar... relação egoista esta!

Mas e o meu abraço?!

Este passo vai ser longo, em camara lenta... e eu não te vou poder sorrir!

És cruel...

Já chegaste!