quarta-feira, junho 15, 2005

Incógnita

Incógnita... depois das palavras a expectativa das palavras não ditas! O subententido... ainda não sei se sou eu que quero que exista algo no nada... ou se realmente para este bacalhau meia palavra não basta!

sábado, junho 11, 2005

História sobre Dedais ou Craquelée

Pastelosamente arrumava o seu quarto, decisão tomada a muito esforço... há meses que se obrigava a pensar que precisava de arrumar as gavetas, de arejar os armários, doar os vestidos que nunca mais vestira (ou os que nunca chegou a usar...), a encontrar os pares das centenas de meias que tinha desemparelhadas... Esta tarefa exigia-lhe um dispêndio de energia, que nem sempre tinha saldo disponível para tal! Mas necessitava neste momento... não podia adiar mais! Mas que raio, que dificuldade pode ter encontrar umas meias debaixo da cama, ensacar uns vestidinhos, que já gostara mas que agora sempre que abria o armário lhe dava uma leve sensação de nausea...?! Ainda não descobrira se lhe era causada pela ausência de estética ou pelo odor a mofo que lhe invadia as narinas... Enquanto dolorosamente abria e fechava as gavetas, deitava fora os recibos das últimas dezenas de pringles que comprara, encontrou uma pequena (?!) caixa de madeira dentro de uma mala castanha de viagem... quando fora a última vez que a vira? quando fora que tinha decidido coloca-la ali?! Um lugar seguro... longe da vista, longe do coração?! Já fora bem mais pequena... mas há muito que não aumentava de tamanho! pegou-lhe com cuidado, com a mesma precaução com que se toca em algo que não conhecemos... mas ela conhecia aquela caixa muito bem! Mas tinha medo que ao abri-la voltasse tudo de novo! Abriu-a... ficou a olhar para o brilho metalico de uns, vitreo de outros, para a rugosidade da madeira, para o craquelée da loiça... tocou-os um a um, rodando-os suavemente entre os seus dedos, cheirou-os... tanto de si naqueles dedais! Cada um deles representava uma viagem, um amor, uma desilusão, uma alegria, um almoço a menos, uns copos a mais... todos eles tinham história... pedaços da sua vida dentro daquela caixa, que ela decidira esconder dentro de uma mala de viagem de pele castanha! Escondera estes dedais, que em tempos comprara sempre que queria guardar de forma palpável o que estava a viver... ainda conseguia recordar o que cada um significava para ela... alguns ainda lhe traziam dor... na altura tinham-lhe dado alegria! outros já só conseguia esboçar um sorriso de ternura, ou de... idiotice porque chorei tanto?! porque a escondera?! há momentos em que pensamos que longe da vista longe do coração... e sempre lhe disseram que não se deve ficar presa ao passado! Deixara de comprar dedais! decide agora voltar a comprar dedais... não muda nada, mas podem ser belas peças de arte! E assim, mais uma vez, não acabou de arrumar o quarto... deixou-se ficar pastelosamente a olhar para os dedais, dentro de uma caixa de madeira, em cima da mesa de cabeceira, a imaginar como serão os proximos que comprará. Se calhar é melhor comprar uma caixa de madeira maior...

Tudo o que acontece está Certo!

"Nenhum homem sabe verdadeiramente como são os outros. O mais que pode fazer é supô-los semelhantes a si (...) Às vezes supreendo em certos rostos olhares de animal elouquecido à procura de um sítio calmo, secreto, onde o espirito pudesse sossegar e o homem reencontrar-se para fazer o exame de consciência (...) Tudo o que acontece está certo, quer seja bom ou mau." in O Inverno do Nosso Descontentamento

quarta-feira, junho 08, 2005

Apenas?!

Passaram-no para as mãos sem grandes explicações. Cuida dele! A princípio não sabia como... Pegou-lhe a medo, com precaução não fosse desatar num choro desenfreado que ele não saberia conter... trazia-o sempre consigo, mesmo nos momentos mais íntimos existia aquela presença, aquele ser... deu-lhe banho, penteou-o, até lhe deu de comer... Durante a noite acordava só para verificar se ele ainda ali permanecia! Os seus braços ganharam a sua forma... Passados três dias voltaram, sem grandes explicações tiraram-no das suas mãos. Desatou num choro contido... Já não era apenas um boneco! o peso que deformou a forma dos seus braços, tornara-se forma no seu coração... Não vez que é apenas um boneco?! para ele já não era só um boneco... ele tinha-lhe dado a vida!

domingo, junho 05, 2005

A da Vizinha...

- Pois para ti é facil... Tem-te acontecido só coisas boas...

- Sim tem-me acontecido muita coisa boa!

Sim, na realidade ultimamente não se podia queixar... sentia-se bem, em harmonia consigo! Com o mundo tinha dias... mas sim, encontrava-se serena! Mas que raio! facil?! fez um sorriso amargo? ironico?! facil... pois! Como se fosse leviano o acto de ao acordar, escolher minunciosamente a indumentária a vestir nesse dia, de preferir vestir laranja em vez do costumeiro fato preto... Os acontecimentos felizes, a que se referia eram internos, processos de pensamento que descobrira, contruira, a fim de poder tirar a mão do queixo! não, não lhe era facil conviver diariamente com a sua realidade... Se fosse a pensar objectivamente... quem lhe dizia que na sua posição o percurso era facilitado, possuia o que ela acreditava serem as peças que lhe faltavam, para a decisão - O que vestirei hoje?! - ser leviana! A da vizinha... Facil... não era nada facil nem simples, mas era do modo que ela queria... Precisava... Tentava...

"A alegria adquire-se. É uma atitude de coragem. Ser alegre não é fácil, é um acto de vontade. " Gaston Courtois