domingo, março 14, 2010

E se existir?

Findo o cigarro, já o dia a meio azul bebé resolvo escrever. Faço-o porque sei que dentro de breves instantes serei interrompida pelo acordar das almas adormecidas que vagueiam por aqui... Manifestaram-se a espaços com passos trôpegos, sonolentos e arrastados, algumas pigarrearam para me lembrarem que existiam, que não estava sozinha... A esta hora, ritualmente, a cabeça dói-me, pesa-me e penso : porquê? Hoje deve ter sido uma boa noite no bairro, nas docas, na minha ou na tua cama... se foi saberei depois e sorrirei... pois mais uma vez estive fora... O que é o bom? talvez o dormir durante dez horas ou talvez ter-me mantido acordada o mesmo espaço de tempo. Não sei... é o emaranhado de ses que torna as coisas belas... mas tão se... e se eu não aparecesse à hora marcada? e se tu não gostares dos meus sapatos verdes palhaço? e se eu não gostar do teu cheiro que depositas na almofada junto aos meus cabelos? E se elas não acordarem? e se não quiserem que lhes abra as portas? e se eu não pertenço aqui? e se tu não és quem és? e se o cotovelo direito não me doesse, eu estaria a escrever disparates? As calças apertam-me mas o cabelo assim faz-me parecer mais jovem... e se tudo isto for mentira e eu agora estiver a dormir nos teus lençóis azuis retro? quem sabe? quem mente? quem Omite? Gostava de estar a dormir abraçada ao meu irmão, nas noites quentes de inverno sabe-me bem, as vezes sinto frio acompanhada... as vezes não sou completamente... Por vezes sinto-me a adormecer a pensar, em ti que não existes, que me acompanhas há muito, por isso te ligo... porque sei que não existes. Quando existires não te ligo, fujo de ti. Tenho medo das certezas, só os ses me deixam insegura o suficiente para acreditar...