Era uma vez, há muitos muitos anos uma cachopa que viajava na carruagem n.7 do Comboio Régua - Vila Real.
Aquele onde é possível durante a viagem deconfortável, longa, trepidante, colher cachos de uva pelo caminho!
São 5 da manhã a carruagem vai vazia. Deduzo que os outros passageiros das outras carruagens durmam... a cachopa ruminava! Ruminava pensamentos, dores...
Um passageiro passa por ela, deve ir ao wc. Na volta cumprimenta-a. A mãe avisou-a para ter cuidado com o lobo mau!
Será que é O Bicho disfarçado de gente?!
Tem cuidado mas cumprimenta-o...
Uma boa noite nunca fez mal a ninguém, nem aos bichos!
Continua a dirigir-se para a sua carruagem...
Neste momento sei que existem dois passageiros acordados, ela e o outro, bicho ou homem. Rumirá também a vida?!
Doi-lhe o corpo, a viagem tem tido alguns percalços!
Segundo consta não são percalços... é o habitual nesta viagem!
Tem fome. Está escuro... Sabe que existem cachos de uva lá fora, bastava-lhe levantar e ir apanhar um deles, depois voltaria para a carruagem e deliciaria-se com gordos bagos suculentos estendida no banco castanho da carruagem vazia. Mas não sabe escolher uvas... Está escuro para dificultar as coisas. Além de que nesta altura do ano é sabido que faz um frio de enrregelar o mais destemido dos homens... Quanto mais uma delicada particula de ser...
O passageiro volta. Terá uma infecção urinária?! quer lume?! quer roubar-la?! humm será que a mãe tinha razão acerca do lobo mau?!
O passageiro pergunta se se pode sentar... ai a mãe! noutras alturas teria dito: tem mais bancos, volte para a sua carruagem! levantar-se-ia e iria ela procurar outro lugar solitário, ficar a sós com a sua vontade de comer, o seu frio, o seu cú dorido ... principalmente para ficar a sós a ruminar, que a mãe também lhe disse que quem rumina são as vacas, e ela que não era nenhuma vaca, ruminava... mas que ninguém o saiba, a ruminação é como a masturbação...
Da sua boca saiu: pode, faça favor!
O passageiro disse que também tinha fome e frio e medo do escuro... táctica de Bicho velho?!
Falaram durante as longas horas da viagem, riram muito, para esconder o medo?! não sei! Falaram da existencia das uvas lá fora, que podiam sair e ir apanha-las... agora?! Está frio e escuro! O passageiro que tinha uns longos braços e umas mãos maiores que as do pai da cachopa, esticou-os o mais que pode para fora da estreita abertura da janela do comboio. Conseguiu, com a polpa cianosada dos dedos médio e indicador, apanhar um bago grande, gordo, mais tarde vieram a saber que suculento, de uva.
Mostrou-o à cachopa e ela Sorriu. Sorriu de contentamento na presença de um simples bago, e disse-lhe: coma-o mas conte-me como lhe sabe!
Ele Respondeu-lhe a fingir ar zangado: não, não o vou comer, vamos come-lo os dois!
- Mas é tão pouco! E foi você que o apanhou...
Era a vez dele sorrir enquanto partilhava milimetricamente o bago de uva com ela... coube 2 grainhas e meia a cada um!
Nisto terminou a viagem... mas a metade da graínha ficou alojado no 3º molar inferior direito, como recordaçao de um passageiro psicótico que pensava que era o lobo mau, mas que ela sabia que ele era o lobo triste a fazer figuras de palhaço mau!
Tudo isto porque comera 2 graínhas que lhe souberam que nem ginjas!
E viveram felizes para sempre a ruminar na solidão...
P.S : vai escrito a amarelo que é a cor das coisas que gosto!
2 comentários:
"Doi-lhe o corpo, a viagem tem tido alguns percalços!
Segundo consta não são percalços... é o habitual nesta viagem!"
adorei esta parte... és grande! és uma artista! és linda! :)
oh luis... como poderei responder? estou babada! embora não saiba se concorde com tudo! gostei da tua visita ruidosa! consegues repetir?! ;)
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