Sopram-te nas narinas, tentando dar-te vida...
Já acenei, gritei, sussurei, não me ouvem!
Tu estás morto. Recebi a noticia por telegrama... não me chocou. Pareço insensível... Sofrias de doença prolongada... já estava á espera há muito que tal acontecesse, na verdade sinti-me ligeiramente aliviada, por mim, por ti, por todos aqueles a quem a tua doença pudesse vir incomodar! No fundo é uma benção...
Continuam as manobras de reanimação... contam até 15. De novo. Não desistem!
Estás morto! Não desistem de um cadáver...
Aproximo-me do teu corpo inerte e frio, retiro do meu pescoço a única prenda que me deste: uma coleira azul metalico, bordos finos cortantes. Junto os seus bordos aos teus pulsos, num gesto seco decidido retiro-te a única parte tua que foi minha: as mãos! as tuas mãos nas minhas ancas, coxas, na minha boca, as tuas mãos frias, como agora, no meu sexo! lambo-te os dedos a pingarem sangue, como sempre gostei de os lamber a pingarem desejo!
Meto-as nos bolsos da gabardine, continuam frias... O coração que fique quem quizer com ele, de ti só quero a fria recordação de umas mãos...
Morreu de que?!
De que havia de ser?! Só se morre de uma causa: coração sem mãos que o segura-se... nunca conseguiu ter o coração nas mãos e oferta-lo...
segunda-feira, dezembro 12, 2005
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